Notícia

Pais e filhos discutem o que falta para o mundo se tornar um lugar melhor

Por: Paulo de Tarso Lyra

A Juventude Irmã Zélia encerrou as atividades do primeiro semestre com o já tradicional Encontro de Pais e Filhos. Tradicionalmente realizado no segundo semestre, optou-se por realizá-lo este ano em julho para não coincidir com datas escolares, como vestibular, Enem e PAS, o que naturalmente reduz o quórum da Juventude. Contamos com a presença de cinco pais e sete jovens. O tema foi: como tornar a espiritualdade mais presente nos dias de hoje?

Após um lanche rápido, foi apresentada aos pais e filhos uma apresentação com oito reportagens sobre assuntos do cotidiano: roubos, guerras, preconceitos e assassinatos. Ao final da apresentação, lançamos ao grupo a seguinte questão: o que está faltando no mundo atual? E qual é o nosso papel diante dessa situação?

Após esse momento de integração inicial, dividimos pais e filhos em dois grupos para um estudo mais aprofundado. Cada grupo recebeu reportagens distintas – quatro para os pais e quatro para os filhos. A partir daí, a missão era analisar as matérias e o que elas revelavam sobre o nosso cenário atual. Em seguida, iniciamos um debate, à luz do Espiritismo, sobre o significado daquelas reportagens.

Q. 785. Qual o maior obstáculo ao progresso?

“O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, pois o intelectual avança sempre. (...)”

Q. 913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?

"Já o dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo (...) aí está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser aproximar-se da perfeição moral, já nesta vida, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, pois o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade; ele neutraliza todas as outras qualidades."

"Para que os homens vivam na Terra como irmãos, não basta dar-lhes lições de moral; é preciso destruir as causas de antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e o egoísmo."

"O homem (...) procura as causas de seus males, a fim de remediá-los. Quando compreender que o egoísmo é uma das causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada instante o magoam, que leva a perturbação a todas as relações sociais, provoca dissensões, destrói a confiança, obrigando-o a manter-se constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim, a causa que faz do amigo um inimigo, então ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua própria felicidade e, acrescentamos, com a sua própria segurança. (...) O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o objetivo de todos os esforços do homem (...)."

O Homem de Bem

Depois de inserirmos essas questões, informamos aos jovens e pais que havia tiras com recortes do texto O Homem de Bem, extraído do Evangelho Segundo o Espiritismo. A partir disso, eles deveriam identificar o trecho da mensagem que melhor funcionaria como antídoto para a situação apresentada nas reportagens.

O Homem de Bem

O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta-se se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros aquilo que queria que os outros fizessem por ele.

Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a Sua permissão e submete-se em todas as coisas à Sua vontade.

Tem fé no futuro e, por isso, coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.

O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre o seu interesse à justiça.

Encontra sua satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros antes de pensar em si mesmo, de tratar dos interesses dos outros antes dos seus. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada ação generosa.

É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças ou de crenças, porque vê todos os homens como irmãos.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança o anátema aos que não pensam como ele.

Em todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. Considera que aquele que prejudica os outros com palavras maldosas, que fere a suscetibilidade alheia com o seu orgulho e o seu desdém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não tem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só se lembra dos benefícios, porque sabe que será perdoado conforme houver perdoado.

É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo precisa de indulgência, e lembra-se destas palavras de Cristo: "Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra".

Não se compraz em procurar os defeitos dos outros, nem em pô-los em evidência. Se a necessidade o obriga a isso, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.

Estuda as suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente para combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si algo melhor do que na véspera.

Não tenta fazer valer o seu espírito, nem os seus talentos, às expensas dos outros. Pelo contrário, aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar as vantagens dos outros.

Não se envaidece com a sua sorte, nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado.

Usa, mas não abusa, dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que se trata de um depósito, do qual deverá prestar contas, e que o emprego mais prejudicial para si mesmo, que poderá dar-lhes, é pô-los ao serviço da satisfação de suas paixões.

Se, nas relações sociais, alguns homens se encontram na sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus. Usa sua autoridade para erguer-lhes a moral, e não para os esmagar com o seu orgulho, e evita tudo quanto poderia tornar mais penosa a sua posição subalterna.

O subordinado, por sua vez, compreende os deveres da sua posição e tem o escrúpulo de procurá-los cumprir conscientemente. (Ver cap. XVII, nº 9)

O homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que lhes são assegurados pelas leis da natureza, como desejaria que os seus fossem respeitados.

Esta não é a relação completa das qualidades que distinguem o homem de bem, mas quem quer que se esforce para possuí-las estará no caminho que conduz às demais.

Encerramento

Após pais e filhos terem feito a conexão entre O Homem de Bem e as matérias da atualidade, o grupo foi reunido novamente em sua totalidade. Os pais apresentaram aos filhos o resultado dos seus trabalhos, e os filhos fizeram o mesmo. Encerradas as apresentações, foi lida a Questão 1019 de O Livro dos Espíritos para responder à pergunta inicial do Encontro: o que falta no mundo de hoje e qual é o nosso papel nesse cenário?

Q. 1019 - O reino do bem poderá um dia realizar-se na Terra?

O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que vêm habitá-la, os bons predominarem sobre os maus; então, reinarão na Terra o amor e a justiça, que são a fonte do bem-estar e da felicidade. Pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus, o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e afastará os maus; mas os maus só a deixarão quando o homem tiver expulsado de si o orgulho e o egoísmo.

A transformação da humanidade foi anunciada, e chegou o tempo em que todos os homens amantes do progresso se apresentam e se apressam, porque essa transformação se fará pela encarnação de Espíritos melhores, que formarão sobre a Terra uma nova ordem. Então, os Espíritos maus, que a morte vai retirando a cada dia, e aqueles que tentam impedir a marcha das coisas serão excluídos da Terra, porque estariam deslocados entre os homens de bem, dos quais perturbariam a felicidade.

Eles irão para mundos novos, menos avançados, em missões expiatórias para seu próprio adiantamento e o de seus irmãos ainda mais atrasados. Nessa exclusão de Espíritos da Terra transformada, não percebeis a sublime figura do paraíso perdido? E na chegada à Terra do homem em condições semelhantes, trazendo em si o gérmen de suas paixões e os traços de sua inferioridade primitiva, não vedes a figura não menos sublime do pecado original? O pecado original, sob esse ponto de vista, refere-se à natureza ainda imperfeita do homem, que é, assim, responsável por si mesmo e por suas próprias faltas, e não pelas faltas de seus pais. Todos vós, homens de fé e boa vontade, trabalhai com zelo e coragem na grande obra da regeneração, porque colhereis cem vezes mais o grão que tiverdes semeado. Infelizes aqueles que fecham os olhos à luz: preparam para si longos séculos de trevas e decepções; infelizes os que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais privações do que os prazeres de que desfrutaram; infelizes, principalmente, os egoístas, porque não encontrarão ninguém para ajudá-los a carregar o fardo de suas misérias. São Luís.

Encerrado o encontro, pais e filhos lancharam e foram para casa. As atividades da Juventude serão reiniciadas no final de julho.


Jornalista. Coordenador da Juventude Espírita Irmã Zélia do Grêmio Espírita Atualpa, Brasília (DF).